Incorporar uma nova cultura organizacional é como aprender outra língua
Os gestores são “adestrados” em princípios de gestão de forma semelhante a como aprendemos a falar. Quando “crescem”, têm dificuldade para falar outra língua.
Anos atrás, quando estive no Japão em busca de referências para a educação profissionalizante no Brasil, teve a oportunidade de conhecer o adido cultural da embaixada brasileira em Tóquio. Funcionários da embaixada diziam que ele era profundamente conhecedor da língua japonesa. Conhecia e usava com precisão as sutilezas da fala e da escrita. Era tão destacado nisso que já tinha sido convidado algumas vezes para integrar o júri de concursos de poesia japonesa.
Há pessoas que têm enorme facilidade para aprender idiomas. Você deve conhecer algumas. Mas nós, pessoa comum, por mais que a gente tente se aperfeiçoar no domínio da outra língua, sempre vamos falar com sotaque. E até escrever com sotaque.
Por que falamos com sotaque?
Porque a fala reflete a conformação de nosso aparelho fonador: as cordas vocais, a laringe, a faringe, a traqueia. E também expressa os circuitos neurais que se formam quando nós aprendemos como palavras, seu significado, a construção de frases. Desde os primeiros anos de vida. Principalmente por imitação. Isto acontece na fase de nosso crescimento físico. O aparelho fonador é formado para expressar os sons que imitamos. A partir do momento que incorporamos esse aprendizado, os circuitos se firmam e a fisiologia do aparelho fonador se completa, passamos a utilizar a forma automática, sem ter consciência deles.
Já adultos, quando vamos aprender uma outra língua temos de fazer esforços conscientes para expressar o que está sendo dito, da forma como está sendo falado. Mas nosso aparelho fonador já está formado. Então, podemos ter dificuldade para expressar sons para os quais ele não foi desenvolvido para emitir. É o caso de japoneses, que têm grande dificuldade para expressar o som da letra “l” (éle). Eles acabam falando o som do “r” suave no seu lugar. Como em co r agem. Dizem que é por isso que eles atendem o telefone em português dizendo “pronto”, em vez de “alô”. Nós, brasileiros, temos dificuldade com o som do th . Temos de colocar a língua entre os dentes para tentar imitar esse som.O que não é natural em nosso idioma.
O que é sotaque em cultura organizacional?
É a forma como cada pessoa demonstra uma cultura. Por exemplo, um gestor que aprendeu e sempre atuou em culturas de comando e controle pode até absorver intelectualmente uma cultura participativa. Nessa cultura, os liderados devem expressar suas ideias e argumentar quando não concordam com seus líderes apresentar. Mas o sotaque do gestor pode se manifestar na forma como ele se comunica. Ele pode continuar dando ênfase apenas aos dados quantitativos, financeiros e mercadológicos, em vez de destacar também a contribuição das pessoas para o alcance dos resultados. Ou, num caso extremo, dar voz a toda a equipe numa tomada de decisão. E, depois de ouvir os comentários de todos, arrematar dizendo: “Muito bem, agora que todos falaram, vamos ao que interessa.Nossa decisão será esta. ”
Você conhece gente assim?
Conheci um diretor de uma empresa bem-localizada que estava buscando uma cultura mais humanizada, com ênfase na gestão biológica em substituição à mecânica. Ele comentou: “Eu até acredito que essa proposta de gestão participativa é positiva e melhor para alcançar resultados consistentes. Mas sou um gestor command and control empedernido. Tenho dificuldades para atuar de forma biológica. ” Ele não fala, praticar outra língua.
E daí? Como garantir que todos os gestores incorporem uma nova cultura?
É necessário fazer o monitoramento sistemático, sutil e permanente da prática da nova cultura. Faça o contrário, como as pessoas voltam aos seus padrões anteriores. Retornam à língua que falavam antes. Que, de certa forma, assegurou seu sucesso até então. Mas que não ajudarão a organização a se sustentar no futuro. As mudanças intensas na composição da força de trabalho, na demografia, como diferentes demandas das novas novas práticas de gestão muito diferentes dos que vigoraram até agora. Um novo idioma de gestão e liderança.