Não são pessoas que lideram, são ideias.
Foto de Christina Morillo no Pexels
As pessoas a quem chamamos de líderes são “porta-vozes de ideias”. São capazes de captar sentimentos, anseios, necessidades fundamentais das pessoas que, muitas vezes, elas próprias não conseguem expressar.
Tendo identificado esses sentimentos, anseios, essas necessidades, mesmo inconscientemente, os “porta-vozes” os organizam e os transformam em ideias articuladas. Ideias que possam ser facilmente apresentadas e compreendidas, comunicadas de forma intensa e mobilizadora. As ideias, então, ressoam nas pessoas porque foram delas que surgiram.
Os “porta-vozes” que se destacam não fixam caminhos nem formas para alcançar a realização das ideias. Eles estimulam as pessoas a buscarem, elas próprias, os caminhos e as formas. Conseguem “compilar” as diversas propostas e, mais uma vez, organizá-las para que sejam facilmente assimiladas e colocadas em ação.
Há inúmeros exemplos históricos desses “porta vozes”: Moisés, Cristo, Maomé, Gandhi, Martin Luther King, Mandela. Estes podem ser vistos como “porta-vozes do bem”.
Há também “porta-vozes do mal”, como Nero, Genghis Khan, Hitler, Stalin, Pol Pot, Idi Amin.
Vários destes “porta-vozes” não se impuseram pela força. Foram escolhidos, eleitos pelas pessoas. E as levaram a praticar atos abomináveis em nome de uma causa que, de alguma forma, estava dentro delas.
Os sentimentos de frustração, impotência, infelicidade com a vida, são campos abertos para o surgimento de líderes assim. Que estimulam comportamentos xenófobos, preconceituosos, discriminatórios. Como se os culpados pela não realização dos anseios fossem os outros.
Ignorância, má fé e sede de poder se combinam e favoreçam que esses “porta vozes” manipulem os sentimentos das pessoas para algo que provoca divisão, sofrimento, perseguição, crimes, guerras. Mas é importante destacar que também nestes casos os supostos líderes estão sendo porta-vozes dos anseios das pessoas.
Estamos vivendo o tempo de redes sociais repletas de fake news e que, com seus algoritmos, só nos entregam ideias semelhantes às que carregamos dentro de nós. Por isso é essencial termos consciência de que os chamados líderes são “porta vozes” de nós mesmos. Essencial para fazermos reflexões profundas sobre o que, mais intimamente, desejamos, quais são nossas crenças mais arraigadas, quanto estamos dispostos a desafiar nossas convicções.
De outro lado, devemos avaliar como reagimos às informações que nos chegam. Não dá para simplesmente aceitá-las e encaminhar o que nos parece interessante. Temos de questionar. De onde vieram as informações? Quais são as fontes? Quão confiáveis são? As coisas que nos são encaminhadas como se fossem assinadas por autores destacados são de fato deles?
Cada um de nós tem a responsabilidade de checar qualquer informação, texto, notícia antes de encaminhar a quem quer que seja. E denunciar informações falsas. Do contrário, ideias absurdas também poderão liderar muitas pessoas e causa danos irreparáveis.
As redes sociais podem ser instrumento extraordinário para disseminar valores nobres, propósitos elevados, ideias e causas pelas quais valha a pena trabalhar.
São as ideias que nos lideram. Cabe a nós sermos “porta-vozes” daquelas que contribuam de fato para o progresso humano e de todas as formas de vida.
Esta é uma proposta de liderança consciente.